Manuscrito com reflexões de GV entre 1945 – 1950

Um documento manuscrito inédito de Getúlio Vargas, entregue por sua neta Celina (filha de Alzira Vargas) ao CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil) da Fundação Getúlio Vargas, que concluiu em junho deste ano a transcrição das 51 páginas.

Várias notas nunca foram publicadas; outras transformadas em discursos de Vargas ao longo de sua vida política.

O que chama a atenção é que muitas de suas reflexões permanecem vivas até hoje, sobretudo quando trata de Democracia e interesses econômicos.

Por exemplo, quando fala de Democracia Política daqueles que rezam pela cartilha de Adam Smith:

Para eles democracia é a liberdade individual para os poderosos do dia fazerem o que entendem, oprimindo aos pobres e humildes [ou], pelo menos, passarem indiferentes ante a penúria e o sofrimento alheios. Para eles o Estado é um Estado polícia que não deve intervir, senão para garantir os privilégios dos poderosos do dia.
Entre esses os mais poderosos são os proprietários dos grandes jornais, opulentos gozadores da vida que impõem seu ponto de vista, [coagindo] a liberdade de pensamento de seus empregados. Esses potentados gozam de todos os privilégios, inclusive o de não pagar imposto de renda. Esses são os que
envenenam e adulteram a opinião dos [que] leem. Eles defendem esse falso conceito de democracia porque esse é o conceito das grandes empresas que lhes pagam os anúncios que os mantêm, afora que os enriquecem.

Nunca fui contrário à democracia. O que sempre afirmei é que a democracia não podia ser simplesmente política, mas também econômica. De que serve igualdade política, sem igualdade social?

Também quando se refere às elites econômicas que, à época, dominavam o Brasil. Aparentemente, são os mesmos interesses e os métodos que perduram até os dias atuais:

Os donos dessa democracia são como os convivas de um lauto banquete que se prepara, sentados em torno de uma mesa: as taças cristalinas aguardam os vinhos capitosos. Um peru trufado aguça os apetites. Pouco importa que o povo lá fora ulula faminto, não tenha com que se alimentar. Eles preparam-se para trinchar e receiam que entre [um importuno], conclame o povo e, puxando a toalha, lance ao chão as finas iguarias.

No período 1945-1949, ao tratar da oposição a seu governo, é como se estivesse falando do período 2016-2022, anos que sucederam os governos progressistas de Lula e Dilma:

Meu governo foi um governo revolucionário, de renovação social, de reerguimento econômico, de fomento da produção, de proteção ao trabalho e à indústria nacional. Atravessamos agora um período de paralisação, se não de retrocesso. Uma onda de reacionarismo contra todas as forças credoras da nacionalidade.

Imagem: Fundação Getúlio Vargas/CPDOC

Seus manuscritos ainda contém análise de política partidária que continua viva no Brasil do século XXI:

O choque será entre o sindicato das classes privilegiadas, que pretendem impor um candidato, dispondo da força e do dinheiro, e o povo, que só dispõe do voto. Terá o povo garantia para dispor do seu voto, livre de coação, de suborno e de violência? Esse será o espetáculo a que iremos assistir.

Abaixo, publicamos a transcrição completa dos cadernos. Leia e baixe o .PDF